A cozinha nasce do encontro entre o rigor do brutalismo e a elegância da curadoria moderna. Um espaço que expressa solidez e delicadeza em igual medida – onde o concreto cru encontra o calor da madeira, e a funcionalidade do design industrial é suavizada por detalhes acolhedores e materiais nobres.
O layout é centrado numa ilha esculpida, revestida em pedra natural, que atua como ponto de encontro, estação de preparação e bancada social. Os armários superiores, em acabamento mate e madeira ripada, proporcionam uma leitura vertical equilibrada, enquanto ocultam perfeitamente os sistemas de armazenamento.
Ao fundo, a adega embutida com nichos em madeira e vidro é mais que um elemento funcional – é uma vitrine do lifestyle dos anfitriões, integrando gastronomia e sofisticação de forma visualmente leve. A iluminação embutida sob armários e a luz quente indireta reforçam essa atmosfera intimista e elegante.
Inspirada nas estruturas brutalistas e nos antigos armazéns vinícolas do Cais de Gaia, a cozinha remete às texturas da pedra e à geometria racional dos grandes blocos. A madeira escura evoca os barris de vinho do Porto, enquanto os tons quentes – como o mocha mousse das banquetas – remetem ao pôr do sol sobre o Douro.
A inspiração não é apenas visual, mas emocional: cada detalhe convida a um modo de vida desacelerado, sensorial, onde preparar uma refeição ou partilhar um vinho torna-se um gesto de contemplação.
A iluminação, pensada em diferentes camadas – direta, indireta e pontual – permite transitar entre funcionalidade e introspeção. O candeeiro suspenso em metal negro, de desenho escultural, reforça a estética industrial-chique, quebrada por tecidos naturais e tons de areia que suavizam o conjunto.
Sob a ampla janela, um banco embutido em madeira natural, com almofadas em linho, convida à contemplação da paisagem urbana e das margens do Douro. Este pequeno gesto arquitetónico transforma-se num ritual matinal: café, leitura e o silêncio interrompido apenas pelas gaivotas. Uma moldura viva para os horizontes que nomeiam o conceito do projeto.
Contígua à cozinha principal, a zona de apoio doméstico é separada por uma porta de correr em vidro fosco, garantindo privacidade sem comprometer a continuidade estética do espaço. Esta área contempla um módulo inferior com bancada técnica, espaço para eletrodomésticos (máquina de lavar roupa e secar), arrumação superior e ponto de água. Os acabamentos seguem a mesma paleta da cozinha principal, reforçando a coesão material e visual do projeto.
O espaço de refeições foi concebido como uma extensão natural da cozinha, criando uma área social com forte presença formal. A mesa de jantar de tampo em vidro fumado e base escultórica é acompanhada por cadeiras de estrutura preta com estofos em pele. Em destaque está a garrafeira embutida, desenvolvida à medida e desenhada com estrutura curva, iluminação embutida e acabamento em madeira. Este elemento funciona como ponto focal do ambiente, integrando a função de armazenamento de vinhos e exibição decorativa.
Um Espaço de Vida, Estilo e Encontro
O resultado é uma cozinha que transcende o utilitário e se transforma numa galeria de experiências. Robusta, mas leve. Minimalista, mas expressiva.
O luxo é discreto, mas envolvente. É o local onde experiências são partilhadas com amigos, onde os rituais cotidianos ganham valor simbólico – como o simples ato de preparar um café ou abrir uma garrafa especial. A presença marcante do concreto e da madeira, em contraste com o brilho sutil dos metais e da iluminação, evoca um espaço que é simultaneamente galeria, laboratório e lar.
Aqui, o design é silenciosamente funcional, mas profundamente intencional. A cozinha não é apenas um lugar para cozinhar: é um espaço de curadoria sensorial.
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